"então e em que língua vais ter as aulas, quando fores de erasmus?"
"inglês"
"ah, então tens a tarefa facilitada, já estás bem habituada a ele"
"sim, penso que não haverá problema"
oh, mente ingénua...
acontece que as aulas são, como se sabe, uma ínfima (e assim se quer) parte da vida erásmica. depois há tudo o resto. há que sobreviver numa cidade que de latina só tem os estrangeiros que por cá andam. e todas as burocracias da vida académica que antes eram cristalinas como água. ou nas quais simplesmente não existiam.
para exemplo, descrevo passagens do dia de ontem.
primeira ida à faculdade, a seguir a termos a nossa primeira aula, almejando um simples fotocopiar de qualquer coisa relacionada com "olhos", mais por descargo de consciência que por verdadeiro interesse académico. perdidos da vida a olhar para as demais indicações tentando entender onde é a biblioteca. recurso ao dicionário é para gente não preguiçosa, e cirandar por diversos corredores como ratos numa piscina do Nikolai tem muito mais piada. já nos dávamos por vencidos quando detectámos a presença de livros. e seguimos-lhes o rasto. que, afinal, era mesmo na esntrada.
encontrámos o que queríamos, porque o sinhor nos abençoa com a presença do agora aconchegante inglês em letras gordas de algumas (nem por isso muitas) capas.
e agora?
perguntamos a pessoal estudioso que por lá se encontrava, e fomos falar com a senhora que dá baixa dos livros para fotocopiar.
card?
sai isic. sai outro isic. sai esn. sai até fmup, em desespero. e continuamos a ouvir uma lengalenga checa, porque parece que a nossa cara de estranheza perante o estranho dialecto que nos dirigem não chega para os demover.
a bondade vem ao de cima, e lá levamos os livros deixando apenas um nome, trazendo todos os cartões connosco. chegamos à beira da fotocopiadora. o isic ainda nao foi carregado, e as instruções estão em checo, esses hieroglifos.
novo pedido de ajuda, mal entendida, que nos levou para o meio de um serviço da faculdade com livros na mão e cara de trengos a olhar para todo o lado. marcha a ré. olha, afinal era na porta em frente. apanhamos o horário de almoço. o esforço não será recompensado, e voltamos de mão a abanar.
capítulo seguinte - menza.
carregar o isic. roxocsoxiocso (versão eslava do anúncio do whiskas saquetas, é o que ouve aos nossos ouvidos). cara de fúria porque aparentemente é um pecado capital não saber a língua do país onde estudamos. e novo rocxoxiosco. "ó mar salgado..." poderia estar a ser declarado na versão checa, que continuaríamos a ouvir sons disconexos.
proxima fase: a refeição surpresa. porque temos de escolher o que comer descrito em checo e sem suporte visual. parece natal, mas com a estranha sensação que o que vem é mesmo o pedaço de carvão. basta uma palavra semelhante ao "comum" dita a escolha de toda uma refeição.
ah, e a "água" é cor de rosa.
lost in translation. ainda assim, encantados da vida.
na shledanou!
"inglês"
"ah, então tens a tarefa facilitada, já estás bem habituada a ele"
"sim, penso que não haverá problema"
oh, mente ingénua...
acontece que as aulas são, como se sabe, uma ínfima (e assim se quer) parte da vida erásmica. depois há tudo o resto. há que sobreviver numa cidade que de latina só tem os estrangeiros que por cá andam. e todas as burocracias da vida académica que antes eram cristalinas como água. ou nas quais simplesmente não existiam.
para exemplo, descrevo passagens do dia de ontem.
primeira ida à faculdade, a seguir a termos a nossa primeira aula, almejando um simples fotocopiar de qualquer coisa relacionada com "olhos", mais por descargo de consciência que por verdadeiro interesse académico. perdidos da vida a olhar para as demais indicações tentando entender onde é a biblioteca. recurso ao dicionário é para gente não preguiçosa, e cirandar por diversos corredores como ratos numa piscina do Nikolai tem muito mais piada. já nos dávamos por vencidos quando detectámos a presença de livros. e seguimos-lhes o rasto. que, afinal, era mesmo na esntrada.
encontrámos o que queríamos, porque o sinhor nos abençoa com a presença do agora aconchegante inglês em letras gordas de algumas (nem por isso muitas) capas.
e agora?
perguntamos a pessoal estudioso que por lá se encontrava, e fomos falar com a senhora que dá baixa dos livros para fotocopiar.
card?
sai isic. sai outro isic. sai esn. sai até fmup, em desespero. e continuamos a ouvir uma lengalenga checa, porque parece que a nossa cara de estranheza perante o estranho dialecto que nos dirigem não chega para os demover.
a bondade vem ao de cima, e lá levamos os livros deixando apenas um nome, trazendo todos os cartões connosco. chegamos à beira da fotocopiadora. o isic ainda nao foi carregado, e as instruções estão em checo, esses hieroglifos.
novo pedido de ajuda, mal entendida, que nos levou para o meio de um serviço da faculdade com livros na mão e cara de trengos a olhar para todo o lado. marcha a ré. olha, afinal era na porta em frente. apanhamos o horário de almoço. o esforço não será recompensado, e voltamos de mão a abanar.
capítulo seguinte - menza.
carregar o isic. roxocsoxiocso (versão eslava do anúncio do whiskas saquetas, é o que ouve aos nossos ouvidos). cara de fúria porque aparentemente é um pecado capital não saber a língua do país onde estudamos. e novo rocxoxiosco. "ó mar salgado..." poderia estar a ser declarado na versão checa, que continuaríamos a ouvir sons disconexos.
proxima fase: a refeição surpresa. porque temos de escolher o que comer descrito em checo e sem suporte visual. parece natal, mas com a estranha sensação que o que vem é mesmo o pedaço de carvão. basta uma palavra semelhante ao "comum" dita a escolha de toda uma refeição.
ah, e a "água" é cor de rosa.
lost in translation. ainda assim, encantados da vida.
na shledanou!
2 comentários:
hoje o prato vegetariano na cantina foi "Espirais com lentilhas"!! pumba pumba :P
(e a carne já tinha acabado!!)
na sexta feira o leonel pediu, mais uma vez sem saber, uma pratada composta exclusivamente por couve flor e batatas cozidas. e cá não há azeite. acho que ganhamos...
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